Questões de Português do ENEM

Questões de Português retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM

cód. #4291

INEP - Português - 2011 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

O nascimento da crônica


Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazemse algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.

Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.

ASSIS, M. In: SANTOS, J .F. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007 (fragmento).


Um dos traços fundamentais da vasta obra literária de Machado de Assis reside na preocupação com a expressão e com a técnica de composição. Em O nascimento da crônica, Machado permite ao leitor entrever um escritor ciente das características da crônica, como

A) texto breve, diálogo com o leitor e registro pessoal de fatos do cotidiano.
B) síntese de um assunto, linguagem denotativa, exposição sucinta.
C) linguagem literária, narrativa curta e conflitos internos.
D) texto ficcional curto, linguagem subjetiva e criação de tensões.
E) priorização da informação, linguagem impessoal e resumo de um fato.

A B C D E

cód. #4292

INEP - Português - 2011 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

Uma luz na evolução


Dois fósseis descobertos na África do Sul, dotados de inusitada combinação de características arcaicas e modernas, podem ser ancestrais diretos do homem


Os últimos quinze dias foram excepcionais para o estudo das origens do homem. No fim de março, uma falange fossilizada encontrada na Sibéria revelou uma espécie inteiramente nova de hominídeo que existia há 50 000 anos. Na semana passada, cientistas da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, anunciaram uma descoberta similar. São duas as ossadas bastante completas — a de um menino de 12 anos e a de uma mulher de 30 — encontradas na caverna Malapa, a 40 quilômetros de Johannesburgo. Devido à abundância de fósseis, a região é conhecida como Berço da Humanidade.

Veja. Abr. 2010 (adaptado).


Sabe-se que as funções da linguagem são reconhecidas por meio de recursos utilizados segundo a produção do autor, que, nesse texto, centra seu objetivo

A) na linguagem utilizada, ao enfatizar a maneira como o texto foi escrito, sua estrutura e organização.
B) em si mesmo, ao enfocar suas emoções e sentimentos diante das descobertas feitas.
C) no leitor do texto, ao tentar convencê-lo a praticar uma ação, após sua leitura.
D) no canal de comunicação utilizado, ao querer certificar-se do entendimento do leitor.
E) no conteúdo da mensagem, ao transmitir uma informação ao leitor.

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cód. #4293

INEP - Português - 2011 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

Mudança


Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio. As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.

RAMOS, G. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008 (fragmento).


Valendo-se de uma narrativa que mantém o distanciamento na abordagem da realidade social em questão, o texto expõe a condição de extrema carência dos personagens acuados pela miséria.


O recurso utilizado na construção dessa passagem, o qual comprova a postura distanciada do narrador, é a

A) caracterização pitoresca da paisagem natural.
B) descrição equilibrada entre os referentes físicos e psicológicos dos personagens.
C) narração marcada pela sobriedade lexical e sequência temporal linear.
D) caricatura dos personagens, compatível com o aspecto degradado que apresentam.
E) metaforização do espaço sertanejo, alinhada com o projeto de crítica social.

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cód. #4294

INEP - Português - 2011 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo, que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula. Em compensação, num racha de menino, ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

NOGUEIRA, A. Peladas. Os melhores da crônica brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977 (fragmento).


O texto expressa a visão do cronista sobre a bola de futebol. Entre as estratégias escolhidas para dar colorido a sua expressão, identifica-se, predominantemente, uma função da linguagem caracterizada pela intenção do autor em

A) manifestar o seu sentimento em relação ao objeto bola.
B) buscar influenciar o comportamento dos adeptos do futebol.
C) descrever objetivamente uma determinada realidade.
D) explicar o significado da bola e as regras para seu uso.
E) ativar e manter o contato dialógico com o leitor.

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cód. #4295

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Nascido em 1935, José Francisco Borges ou J. Borges, como prefere ser chamado, é um dos mais expressivos artistas populares do Brasil. Considerado por Ariano Suassuna o maior gravador popular do país, o artista foi um dos ilustradores do calendário da ONU do ano de 2002. Autodidata, J. Borges publicou seu primeiro cordel em 1964, intitulado O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, seguido de O Verdadeiro Aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm, cuja publicação deu início à sua carreira de gravador. Na década de 1970, artistas plásticos, intelectuais e marchands passaram a encomendar suas xilogravuras, o que levou as imagens a ganharem cada vez mais autonomia em relação ao cordel. Desde então, o itinerário do artista vem se fortalecendo pela transmissão dos conhecimentos da xilogravura às novas gerações de sua família, com quem mantém a Casa de Cultura Serra Negra, no sertão pernambucano.

Disponível em: http://msn.onne.com.br. Acesso em: 21 maio 2010.



A xilogravura é um meio de expressão de grande força artística e literária no Brasil, especialmente no Nordeste brasileiro, onde os artistas populares talham a madeira, transformando-a em verdadeiras obras de arte. Com total liberdade artística, hoje já conquistaram espaço entre os diversos setores culturais do país, retratando cenas

A) do seu próprio universo, revelando personagens com aparência humilde em vestes requintadas.
B) com temas de personagens do folclore popular, crenças e futilidades dos mais necessitados.
C) de conteúdo histórico e político do Nordeste brasileiro, com a intenção de valorizar as diferenças sociais.
D) das grandes cidades, com a preocupação de uma representação realista da figura humana nordestina.
E) com personagens fantasiosos, beatos e cangaceiros presentes nas crenças da população nordestina.

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cód. #4296

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Quando Rubem Braga não tinha assunto, ele abria a janela e encontrava um. Quando não encontrava, dava no mesmo, ele abria a janela, olhava o mundo e comunicava que não havia assunto. Fazia isso com tanto engenho e arte que também dava no mesmo: a crônica estava feita. Não tenho nem o engenho nem a arte de Rubem, mas tenho a varanda aberta sobre a Lagoa — posso não ver melhor, mas vejo mais. [...] Nelson Rodrigues não tinha problemas. Quando não havia assunto, ele inventava. Uma tarde, estacionei ilegalmente o Sinca-Chambord na calçada do jornal. Ele estava com o papel na máquina e provisoriamente sem assunto. Inventou que eu descia de um reluzente Rolls Royce com uma loura suspeita, mas equivalente à suntuosidade do carro. Um guarda nos deteve, eu tentei subornar a autoridade com dinheiro, o guarda não aceitou o dinheiro, preferiu a loura. Eu fiquei sem a multa e sem a mulher. Nelson não ficou sem assunto.

CONY, C. H. Folha de S. Paulo. 2 jan. 1998 (adaptado).


O autor lançou mão de recursos linguísticos que o auxiliaram na retomada de informações dadas sem repetir textualmente uma referência. Esses recursos pertencem ao uso da língua e ganham sentido nas práticas de linguagem. É o que acontece com os usos do pronome "ele" destacados no texto. Com essa estratégia, o autor conseguiu

A) confundir o leitor, que fica sem saber quando o texto se refere a um ou a outro cronista.
B) comparar Rubem Braga com Nelson Rodrigues, dando preferência ao primeiro.
C) referir-se a Rubem Braga e a Nelson Rodrigues usando igual recurso de articulação textual.
D) sugerir que os dois autores escrevem crônicas sobre assuntos semelhantes.
E) produzir um texto obscuro, cujas ambiguidades impedem a compreensão do leitor.

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cód. #4297

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O RETIRANTE ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: "Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO”

— A quem estais carregando,

Irmãos das almas,

Embrulhado nessa rede?

Dizei que eu saiba.

— A um defunto de nada, I

irmão das almas,

Que há muitas horas viaja

À sua morada.

— E sabeis quem era ele,

Irmãos das almas,

Sabeis como ele se chama

Ou se chamava?

— Severino Lavrador,

Irmão das almas,

Severino Lavrador,

Mas já não lavra.

MELO NETO, J. C. Morte e vida Severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994 (fragmento)


O personagem teatral pode ser construído tanto por meio de uma tradição oral quanto escrita. A interlocução entre oralidade regional e tradição religiosa, que serve de inspiração para autores brasileiros, parte do teatro português. Dessa forma, a partir do texto lido, identificam-se personagens que

A) se comportam como caricaturas religiosas do teatro regional.
B) apresentam diferentes características físicas e psicológicas.
C) incorporam elementos da tradição local em um contexto teatral.
D) estão construídos por meio de ações limitadas a um momento histórico.
E) fazem parte de uma cultura local que restringe a dimensão estética.

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cód. #4298

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— Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã! Canaã!

Mas o horizonte da planície se estendia pelo seio da noite e se confundia com os céus.

Milkau não sabia para onde o impulso os levava: era o desconhecido que os atraía com a poderosa e magnética força da Ilusão. Começava a sentir a angustiada sensação de uma corrida no Infinito...

— Canaã! Canaã!... suplicava ele em pensamento, pedindo à noite que lhe revelasse a estrada da Promissão.

E tudo era silêncio, e mistério... Corriam... corriam. E o mundo parecia sem fim, e a terra do Amor mergulhada, sumida na névoa incomensurável... E Milkau, num sofrimento devorador, ia vendo que tudo era o mesmo; horas e horas, fatigados de voar, e nada variava, e nada lhe aparecia... Corriam... corriam...

ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 (fragmento).


O sonho da terra prometida revela-se como valor humano que faz parte do imaginário literário brasileiro desde a chegada dos portugueses. Ao descrever a situação final das personagens Milkau e Maria, Graça Aranha resgata esse desejo por meio de uma perspectiva

A) subjetiva, pois valoriza a visão exótica da pátria brasileira.
B) simbólica, pois descreve o amor de um estrangeiro pelo Brasil.
C) idealizada, pois relata o sonho de uma pátria acolhedora de todos.
D) realista, pois traz dados de uma terra geograficamente situada.
E) crítica, pois retrata o desespero de quem não alcançou sua terra.

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cód. #4299

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Fernand Léger, artista francês envolvido com o movimento cubista, tinha como princípio transformar imagens em figuras geométricas, especialmente cones, esferas e cilindros. A obra apresentada mostra o homem em uma alusão à Revolução Industrial e ao pós I Guerra Mundial e explora

A) as formas retilíneas e mecanizadas, sem valorização da questão espacial.
B) as formas delicadas e sutis, para humanizar o operário da indústria têxtil.
C) a força da máquina na vida do trabalhador pelo jogo de formas, luz/sombra.
D) os recursos oriundos de um mesmo plano visual para dar sentido a sua proposta.
E) a forma robótica dada aos operários, privilegiando os aspectos triangulares.

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cód. #4300

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As vanguardas europeias não devem ser vistas isoladamente, uma vez que elas apresentam alguns conceitos estéticos e visuais que se aproximam. Com base nos conceitos vanguardistas, entre eles o de exploração de formas geometrizadas do Cubismo, no início do século XX, o quadro Soldados jogando cartas explora uma

A) abordagem sentimentalista do homem.
B) imagem plana para expressar a industrialização.
C) aproximação impossível entre máquina e homem.
D) uniformidade de tons como crítica à industrialização. © m
E) mecanização do homem expressa por formas tubulares.

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